Qualquer pessoa que tenha assistido a um telejornal nessa última semana deve ter visto algo sobre o impasse provocado por Beppino Englaro com o governo italiano. Beppino (que nome bonito esse seu hein moço...), era pai de Eluana Englaro, que em 1992 sofreu um acidente de carro aos 21 anos e se encontrava em estado vegetativo desde então. O termo "estado vegetativo" é utilizado para "determinar o estado de saúde de pacientes que são mantidos apenas por aparelhos, por já não apresentarem resposta a quaisquer estímulos, mas que ainda não apresentaram sinais de morte cerebral." (wikipédia). Ou seja, a pessoa pode parecer acordada e ter reflexos, mas não tem consciência nenhuma do ambiente ou do que acontece ao seu redor, ou mesmo qualquer sensação de dor.
Depois de 17 anos com a filha neste estado, o pai decide entrar com um pedido judicial para desligar o aparelho que alimentava e hidratava Eluana. O que conseguiu em novembro de 2008, forçando o governo italiano, representado por Silvio Berlusconi, a tentar evitar que a decisão fosse levada a cabo. Na Itália a eutanásia não é permitida. Lá o paciente pode decidir não se tratar, mas não pode decidir pôr fim à sua vida. É meio sem lógica, afinal, um paciente com câncer que decidir não se tratar vai se matar da mesma forma que aquele que desliga a máquina que o mantém vivo... mas vai entender né?
Mas ao contrário do que o Vaticano pensa, o debate não é judicial ou relativo, é moral, ético e ideológico. "Seria preciso que esta morte restituísse sobretudo o respeito para a morte em si", afirmou o diretor do jornal vaticano L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian, que criticou as preocupações "ideológicas" envolvendo o caso. Vian ressaltou a necessidade de ter "tranquilidade para tentar entender. Não se tratava apenas de respeitar um convite ao silêncio que não foi respeitado por quase ninguém".
Trocando em miúdos essas declarações pra lá de vagas, o que foi dito é que cada um dá o fim que quiser a sua vida. É no mínimo curioso esse posicionamento do Vaticano. Afinal, eles são contra o aborto, em que uma pessoa (a mãe), tira a vida de outra (o filho). E aqui apóiam um pai que quer ter o direito de tirar a vida da filha. Santas contradições romanas.
Mas antes de seguir adiante, precisamos conceituar o que é "vida". E falar disso é como passar um fim de semana na torre de Babel. Para os filósofos é uma coisa, para os biólogos é outra, mas se quiser confusão mesmo, é ver o que a vida representa para os religiosos. Cada crença tem um conceito de "vida" mais esquisito que a outra. Para evitarmos um labirinto de conceitos que vão dar em lugar nenhum, vou encurtar o caminho para vermos o que Deus diz acerca da vida.
Conferindo textos como Gênesis 1.20-26 e 9.5-6 ou Mateus 5. 21-25, podemos claramente descobrir que para Deus a vida é uma dádiva preciosa, e portanto devemos dedicar nossos esforços para preservá-la, não tirá-la.
Ao contrário do que muitos pensam, esse é um debate importante e complexo e com muitas questões que não podem ser respondidas. A falta de diálogo, reflexão e postura de nossa parte pode acabar em consequências graves que já tiveram seu lugar na história. Na Alemanha Nazista do III Reich havia uma expressão: leibensunwertes Leben – "a vida que não vale a vida". Com esse moto justificou-se o genocídio e a matança de judeus, ciganos e pessoas aleijadas, pois a vida deles não "valia a pena ser vivida", fato esse bem lembrado pelo presbítero Solano Portela ao escrever um artigo sobre o assunto em 2004. É o mesmo raciocíonio por trás dos episódios de "limpeza" étnica ocorridos na África, na Iugoslávia, na China, onde se mata porque um é mais "branco" ou mais "negro" que o outro. A responsabilidade da decisão sobre que vive e quem morre nunca nos foi dada. Deus permite que nos matemos. Mas nunca nos autorizou a isso. Assim como permite que pequemos, mas nunca assinou embaixo dos nossos pecados.
Nem tudo é preto ou branco na nossa vida. Nem sempre "certo" e "errado" são fáceis de distinguir. E se fosse eu no lugar do pai de Eluana? E se fosse você? Qual seria a nossa decisão?
Mais do que nunca, precisamos nos achegar a Deus para que Ele nos auxilie em momentos como esse. Não creio que tenha sido fácil pra Deus entregar a vida de Seu único Filho, mas essa foi uma decisão que Ele teve que enfrentar.
Deus também toma decisões difíceis. Por essa razão eu posso pedir conselhos a Ele. Porque eu sei que Ele me entende, eu sei que nEle eu tenho um Amigo que sabe o que é tomar decisões de vida ou morte.
Não há respostas fáceis em relação a eutanásia. Não há formulas mágicas a seguir. Enquanto nos for permitido, vamos nos esforçar para preservar a vida, e deixar Deus tomar as decisões que não cabem a nós.
Em Cristo
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Eutanásia: Deus mata ou mato eu?
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Tudo é muito claro de entender se você focar sua ótica na banalização da vida humana,o ser humano está perdendo para animais,se eu ,uma mera mortal ainda consigo me surpreender com a raça humana qdo eu acho que já vi tudo que uma pessoa pode fazer de mal para a outra...penso em Deus e me lembro que só pela misericórdia Dele é que ainda não fomos consumidos,mas que o povo não se estenda NÃO em errar sem cessar,essa misericórdia está com dias contados para a humanidade.Tenho dito.
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