segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Marta e a igreja evangélica hoje

"Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros..." Quando Jesus fez essa pergunta descrita no Evangelho de Mateus, o público e o contexto cultural era um pouco diferente do nosso hoje. Se Jesus fizesse essa pergunta para nós, cristãos brasileiros hoje, acho que a resposta seria mais ou menos assim: "Mas a quem hei de comparar esta geração? Já sei, Marta! A irmã atarefada de Lázaro. Com certeza é Marta!"
A igreja evangélica nunca encontrou o seu ponto de equilíbrio. Em quase 2.000 anos de existência, pendemos do sincretismo e bizarrices do neopentecostalismo à apatia das igrejas históricas. Dependendo do "movimento" atual, vamos da letargia ao ativismo sem objetivo.
A bola da vez é o ativismo. Assim como sempre aconteceu, a igreja acompanha o cenário cultural, social e político do seu ambiente. Quem discorda só precisa se lembrar das igrejas luteranas com suásticas nos templos durante o regime nacional socialista na Alemanha, ou das igrejas evangélicas pró-escravidão no sul dos EUA durante a guerra civil, infelizmente a lista é bem maior, mas não é sobre história eclesiástica que eu quero tratar aqui. É assunto para outra postagem.
Em nossa atual geração, valorizamos muito o "fazer". O que importa hoje é fazer acontecer. E fazer rápido. Gerenciamos o nosso tempo e recursos para conseguirmos fazer o maior número de tarefas no menor tempo possível.
E essa forma de comportamento se tornou a "personalidade" do século. E como a igreja não fica pra trás quando se trata de aderir à filosofia corrente (fica pra trás em um monte de coisas, menos em fazer besteira...), também embarcamos nessa.
A agenda da igreja está sempre cheia. Tem pastor que não pode deixar os membros "desocupados" durante a semana. Tem que ter programação de segunda à domingo. É reunião de oração, louvorzão, estudo bíblico, culto nos lares, reuniãos dos departamentos. Até parece que quando Deus inventou o sétimo dia para descanso, deixou pro diabo tomar conta, porque crente não pode ficar de bobeira, não pode ficar sem trabalho na igreja senão está pecando.
Não quero com isso, dizer que se envolver com as atividades da igreja seja em si errado e que os "domingueiros" é que são os corretos. A crítica está na semelhança de atitudes com as de Marta, narradas no Evangelho de Lucas no capítulo 10, a partir do versículo 38.
Jesus, como sempre, estava andando. Desta vez passando por Betânia. Marta, dona de casa diligente e hospitaleira, convida o Mestre para ficar em sua casa. Mas como Jesus pegou ela de surpresa, a casa devia estar de pernas pro ar. E lá vai Marta fazer uma faxina pra deixar Jesus à vontade. E enquanto Marta trabalhava, Maria, sua irmã, estava lá sentada, só ouvindo Jesus falar. Jesus fala, Maria ouve, e Marta trabalha...
Ninguém pode, a não ser injustamente, criticar as intenções de Marta. Na minha concepção, deviam ser as melhores. Ela queria que Jesus tivesse o melhor na sua casa. Louça limpinha, chão varrido, mas meu amigo, Jesus não ia morar lá. Estava de passagem, o tempo que eles teriam com Jesus era limitado. Aquilo era hora de varrer tapete?
E infelizmente podemos estar agindo da mesma forma. Somos a igreja de Laodicéia. "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo." (Apocalipse 3.20). Já ouvi muita gente usando esse texto para evangelizar perdido. Nada contra, mas não é esse o sentido primário do texto. Esse versículo foi escrito para a Igreja. Foi escrito para crente, não para descrente. Foi uma carta para uma igreja não para um terreiro de macumba.
A igreja de Laodicéia estava como muita igreja está hoje: estava lá, no meio do culto de domingo, cantando "Faça um milagre em mim", enquanto Jesus estava ali, do lado de fora batendo na porta vendo se alguém deixava Ele entrar pra participar.
Tenho medo de que hoje nós tenhamos tornado a igreja uma concorrente de Deus.
Enquanto nossa agenda eclesiástica está cheia, nosso coração está vazio. Perdi a conta de quantos "reverendos", teólogos, ou membros de igreja que eu conheci que já não oram. Leem (nova ortografia! Lêem não tem mais ^!) a Bíblia somente aos domingos quando vão à igreja ou para preparar um sermão.
Muitas vezes nos sentimos culpados por não ir a uma programação da igreja, mas nossa consciência nem "apita" quando ficamos um dia sem orar ou ler a Palavra.
Uma vida de piedade e íntimo relacionamento com Deus nos move. Mas nem sempre o que nos move é uma vida de piedade e íntimo relacionamento com Deus.
Frequentar cultos, pregar a Palavra, fazer milagres ou expulsar demônios, nada disso conta pontos com Deus. Confere em Mateus 7.22, 23: "Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade." Sem um relacionamento profundo e verdadeiro com Deus, toda ação em nome dEle, não conta pontos, todo sacrifício é vão.
Para a nossa sociedade, 24 horas não valem mais nem 12. O dia é curto para tudo o que temos pra fazer e o primeiro a pular fora da agenda é o tempo para estar a sós com Deus, e tentamos compensar indo a alguma atividade da igreja pra aliviar nossa consciência. "Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada." (Lucas 10.42).
Lendo os Evangelhos poderemos notar que apesar da agenda cheia de Jesus, os momentos a sós em oração não eram negligenciados (pra facilitar, dê uma olhada em Lucas 22.39 e 40).
Podemos sim encontrar tempo para tudo, mas temos que aprender a priorizar o uso do tempo. Não há falta de tempo, há um mau uso dele.
A casa bagunçada ficaria por ali, não ia a lugar nenhum. Jesus é que ia. Maria soube priorizar o uso do tempo, Marta não.
Se não começarmos hoje a colocar o nosso relacionamento pessoal com Deus em dia, através da oração, leitura da Palavra e uma vida santa, tudo o que fizermos para Ele, seja o que for, será mera repetição de Isaías 1.11-15, e não é nada bonito. Agenda cheia e coração vazio combina com campanha política, não com vida cristã.
O que nos falta não é ação. É oração.

Em Cristo

Um comentário:

  1. Reconhecer é preciso,acho que estou mais para Marta do que para Maria,mas sabe Henrique o mundo nos cobra um tempo que não temos e por ter que batalhar na vida secular Deus fica negligenciado sim,mas qdo a doença vem ou algo assim aí nos tornamos como Maria.É muito sério td isso,tenho gasto muito pouco tempo na presença de Deus,mas por outro lado sei que estou evangelizando,fazendo obras,mas esse seu "puxão de orelha" me situou.Deus te abençoe querido e te dê cada vez mais unção para abrir os olhos de CRENTES como eu.Bjs no core.

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